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Penso, logo existo

Escrito por Andriele Muri em 06 Dezembro 2016.

“Penso, logo existo” é uma frase do filósofo francês René Descartes, que marcou a visão do movimento Iluminista – ocorrido na Europa do século XVIII e palco de grande desenvolvimento da Ciência e da Filosofia. Ele parece ter chegado à conclusão da célebre frase ao traçar uma metodologia para definir o que seria o verdadeiro conhecimento. Para ele, todas as teorias científicas acabavam por ser refutáveis e substituídas por outras. Não havia nenhuma certeza verdadeira, além da dúvida. René Descartes passou, então, a duvidar de tudo, pois entendeu que, ao duvidar, estava pensando, e, por estar pensando, ele existia.

Tempos depois de Descartes, surge o conhecimento científico, pois o ser humano tem a  necessidade de querer saber como as coisas funcionam ao invés de apenas aceitá-las passivamente. O conhecimento científico proporcionou ao homem começar a entender o porquê de vários fenômenos naturais e, com isso, passar a intervir mais nos acontecimentos ao seu redor.

De fato, sem pensar, torna-se muito difícil existir e participar criticamente das discussões que rodeiam uma sociedade onde o conhecimento científico e tecnológico é cada vez mais valorizado. Sou professora de Ciências e acredito que o “ensinar para o pensar” deve fazer parte da prática pedagógica dos professores, não apenas de Ciências, mas de todas as disciplinas, desde os anos iniciais de escolaridade. Não consigo pensar na formação de um cidadão crítico à margem do conhecimento científico e do avanço tecnológico numa sociedade em que eles são imprescindíveis. Apesar da maioria da população fazer uso e conviver com incontestáveis produtos científicos e tecnológicos, pouco se pensa sobre os processos envolvidos na sua criação, produção e distribuição. 

No período de 2007 a 2009, tive a oportunidade de viver uma rica experiência no Programa de Treinamento para Professores Estrangeiros no Japão. As visitas às escolas e a observação de aulas, principalmente de Ciências, serviram para aguçar meu desejo por um ensino que, mais tarde, seria denominado de “educar para o pensar”. No Japão, diferente do que eu imaginava, não se conta com tantos recursos tecnológicos na educação. Cheguei à conclusão de que é possível educar mais e melhor com os recursos que temos e, principalmente, fazer uso da nossa criatividade, do pensar. As aulas de Ciências no Japão são bastante dinâmicas e cada uma delas traz uma situação-problema que precisa ser resolvida. Os alunos são convidados a dar suas opiniões e apresentarem o conhecimento que têm previamente sobre o assunto proposto. Eles formulam hipóteses e as testam através de experimentos, que na maioria das vezes são bem simples, e pesquisa, tudo moderado pelo professor. Por fim, registram os achados e as conclusões a que chegam. Aos alunos japoneses não são dadas respostas prontas e, até onde pude perceber, há uma construção autônoma de conhecimento. 

Recentemente, por conta do meu estágio de doutorado sanduíche, pude observar mais de perto cerca de 60 aulas de diferentes professores de Ciências das séries finais do Ensino Fundamental no Japão. Impressiona o percentual de aulas em que a experimentação acontece e, de novo, a forma como as aulas são conduzidas. A dúvida é uma aliada do processo de aprendizagem. Ela é percebida, hipóteses são levantadas e testadas e o conhecimento consolidado, construído através do pensar, através do existir!

Nós da RIA acreditamos e investimos nesse conceito de ensino, o de “educar para o pensar”. Temos o desejo, na teoria e na prática, de fazer com que os estudantes conquistem um pensar autônomo. Entendemos que o pensar é uma maneira de aprender, de investigar o mundo e as coisas para melhor interpretá-las. Como Immanuel Kant, outro importante e renomado filósofo, acreditamos que o conhecimento se inicia com as perguntas que fazemos à natureza. Mas que essas perguntas só surgem quando, contemplando a natureza, nos sentimos provocados por seus assombros. Ou seja, quando mobilizamos o pensar.  Justamente quando existimos.


 

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Precisão na Comunicação

Escrito por 18 Outubro 2016.

O trabalho da RIA está centrado no processo de pensamento, ou melhor, na organização e conscientização das ações mentais do que chamamos de “pensar”. Alguns dos processos fundamentais são os de observação e de descrição. Eles estão intimamente ligados, pois o nível de atenção aos detalhes observados, seja em um objeto ou um acontecimento qualquer, depende do objetivo da descrição e de sua comunicação. Se você, por exemplo, fosse descrever uma peça de roupa da qual gostou, daria detalhes muito mais precisos (cor, tamanho, tipo, loja) se estivesse conversando com seus amigos na véspera do seu aniversário.

A comunicação de algo observado ou percebido pode ser feita oralmente, por texto, por meio de figuras, diagramas etc. Além da atenção aos detalhes úteis, é também importante saber diferenciar fatos de interpretações pessoais (inferências). A precisão na comunicação está muito ligada a esta distinção. O que foi realmente observado e qual é a minha interpretação ou opinião sobre isso? Qual é o nível de precisão e de detalhamento que devo ter ao descrever ou comunicar?

“Ontem estava incrivelmente quente e seco” é uma frase que se pode ouvir em uma conversa informal. É uma descrição pouco precisa sobre o clima e está baseada em percepções pessoais. Mesmo assim, tem coerência com o objetivo de começar uma conversa. As distinções entre quente/frio ou seco/úmido, ou ainda do que é incrível ou não, são subjetivas, ou seja, dependem de cada pessoa. Tem gente que prefere o verão e há aqueles que preferem o inverno. Além disso, a vivência pessoal de cada um influencia a percepção do que é ou não “incrível”.

“Senti muito calor ontem. A temperatura chegou a 38 °C e a umidade do ar estava muito abaixo do normal” é uma frase que poderia ser usada por alguém em consulta com um médico, discutindo por que passou mal no dia anterior. Nesse segundo exemplo, a precisão na comunicação é maior. É fornecido um valor de temperatura máxima (38 °C) e a sensação pessoal de calor é informada em vez de afirmar que o dia estava “quente”, ou seja, o locutor separou sua percepção (calor) do fato (temperatura máxima de 38 °C). Um referencial foi dado para a umidade do ar, mas que deixa dúvidas pela falta de precisão. O que seria uma umidade “normal”? O quão exatamente é “muito abaixo”? Se o médico achar que essas informações são necessárias para sua análise, indagará o paciente para ter mais detalhes.

Um engenheiro ambiental que estuda a dispersão de poluentes atmosféricos faria um registro ainda mais preciso e detalhado sobre o clima em seu caderno: “Os instrumentos da estação meteorológica indicam que no dia 14/07/2016 a temperatura variou entre 27,9 e 38,3 °C, com uma média de 35,0 °C, e a umidade relativa do ar oscilou entre 48 e 51% com uma média de 49%”. Como esse é um relato científico, deve conter dados precisos e úteis. Um ponto interessante é que em vez de escrever que a temperatura do ar “foi” de 35,0 °C, ele deixa claro que sua real observação foi do valor “35,0 °C” indicado pelos instrumentos, sendo assim, ele não “observou” a temperatura. Qual é a diferença? Se 35,0 °C é o valor correto da temperatura média daquela região naquele dia dependerá de diversos fatores, como a calibração do instrumento, o princípio de medição ou a localização da estação.

Como podemos notar nesses três exemplos, a precisão na comunicação depende do seu objetivo. Como ensinava a Prof.ª Reiko, “uma pessoa amadurece quando suas atividades são disciplinadas pelo objetivo”. O engenheiro não escreveria “incrivelmente quente” em seu relatório de medições, nem começaríamos uma conversa entre amigos com “a umidade relativa oscilou entre 48 e 51% com uma média de 49%”.

A comunicação precisa e eficiente é aquela em que fatos observados estão separados das interpretações e percepções pessoais e o detalhamento é consistente com o objetivo da descrição (sem focar no que não tem utilidade). Evitam-se palavras subjetivas como muito/pouco ou palavras extremas como sempre/jamais. Além disso, é importante ter vocabulário para se expressar adequadamente (na dúvida, não tenha vergonha de usar o dicionário) e ter habilidades gráficas para fazer desenhos ou diagramas que forem necessários. Para finalizar, essas habilidades são úteis não só para quem comunica, mas também para quem recebe as informações. Seja um comunicador eficiente e um receptor crítico!


 

Jorge Andrey W. Gut


Professor da Escola Politécnica da USP - Eng. Química. Foi capacitado e trabalhou com a Profa. Reiko Isuyama em projetos como o Jornal Reação e o Novo Telecurso de Química.

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“Brasil, pátria educadora”

Escrito por Adriano Natale em 23 Agosto 2016.

Hoje em dia fala-se muito em educação, novos métodos, novas ideias, nova base curricular nacional e até mesmo o governo proclama o bordão “Brasil, pátria educadora”. Mas, além de uma pobreza educacional e cultural imensa, que se espalha desde o trabalhador rural nos confins do país até a nossa elite política, o que mais vemos no dia a dia nas escolas e nas ruas?

Vemos jovens ligados na internet o tempo todo, em redes sociais ou em jogos. Nas ruas, no transporte coletivo ou em outros locais parece que todas as pessoas passaram a depender desse mundo cibernético. Nem sempre esses jovens, muitos dos quais frequentam nossas escolas, estão fazendo uso do lado informativo da tecnologia. Na maioria das vezes, estão ligados apenas em futilidades. 

Como trazer este jovem aluno para o estudo? Como educar um jovem altamente estimulado pela internet e pelo comportamento hedonista atual, levando-o a ler um livro, “ligar-se” em novas ideias e tecnologias, mas não de forma superficial, e sim de forma a procurar, perguntar, entender, pensar além? 

Houve enorme avanço científico e social no último século. Eu me pergunto se isso não gera um fator de alienação na população. As pessoas usam computadores, mas mal compreendem como essa máquina funciona. Como entender que um garoto possa inventar um aplicativo e tornar-se milionário de um dia para outro? Como entender todas essas máquinas e esse mundo em ebulição, onde a globalização da informação afeta inclusive os comportamentos sociais? É importante que as pessoas tenham um mínimo de entendimento, pois cada cidadão deverá opinar ou decidir sobre assuntos como, o uso da energia nuclear, problemas com o meio ambiente, sobre novos tratamentos médicos ou novos remédios. Não há real evolução de um povo, tanto do ponto de vista social como tecnológico, se ele não compreender e não tiver consciência dos avanços da ciência e do comportamento humano, ou se esse conhecimento for de posse de apenas um grupo de pessoas. Como propagar educação e cultura num país com índices educacionais tão baixos como no Brasil? 

O mundo deverá continuar a se transformar rapidamente e com muito mais informação, tanto no que se refere à quantidade como à qualidade do conhecimento humano. Portanto, é necessário renovar métodos e ideias ao pensar em ensino em larga escala, mas o que falta para a educação, para diminuir a alienação, para trazer o jovem para o estudo e a cultura, é um “clique”! Que clique é esse? 

Como professor, presenciei muitos alunos com dificuldades. Por exemplo, podemos falar de um aluno não interessado, distante do estudo e da leitura, que em geral é classificado como sem foco ou fraco. E esse comportamento também vale para qualquer pessoa alienada do mundo atual. Para mudar esse quadro, o educador deve ir trabalhando, convivendo, conversando com o aluno e, de repente: “Clique”, observa-se um brilho nos olhos! Esse aluno começa a se interessar, a ler, a pensar, a ter um foco no que pretende fazer.

O caminho para o clique começa na educação familiar, não está na inovação, mas sim no contato humano. A educadora Reiko Isuyama, com quem tive a oportunidade de trabalhar, dizia que a personalidade de uma criança está formada aos cinco anos de idade. Nesse sentido, os pais são os primeiros e maiores responsáveis por ensiná-la a perguntar, descobrir e pensar. Evidentemente, num país como o nosso, nem sempre os pais tem o conhecimento ou o tempo para despertar no filho a vontade de observar e pensar, e abrir o caminho para o “clique” de descobrir e entender o mundo em que vivemos. A tarefa passa então para o professor. Ele encara salas de aula lotadas, corre de um lado para outro, pois mantém uma carga horária de trabalho enorme para sobreviver e, muitas vezes, enfrenta a falta de conhecimento, o que complica a evolução do “clique”, já que ele deve ser alimentado regularmente, abrindo o horizonte do estudante. 

A Profª. Reiko dedicava seu tempo a cada criança e cada professor, conversava e ouvia cada uma delas, preparava suas aulas sem pressa, sempre procurando focar no que é importante transmitir, e descobria em cada um como produzir o “clique”. Não há dúvida que isso exige um grande esforço por parte do educador. Todos os bons alunos que conheci ou com quem trabalhei, tiveram sempre pais, professores ou até amigos que despertaram o “clique” no estudante. Aquela coisa de admirar a vida, de perguntar, de querer saber mais, de pensar. Em geral, eles não usaram métodos novos ou ideias geniais, eles apenas foram pessoas que tinham habilidade de pensar, raciocínio lógico e sensibilidade. Já vi alunos universitários pouco aplicados e que, num dado momento, despertados por alguma experiência ou por um professor, se tornaram bons alunos. Dessa forma, sou conservador em relação à educação, podemos e devemos inovar na forma de educar, mas nada irá substituir o contato humano, a percepção de descobrir o que irá fazer os olhos do aluno brilhar, e de poder reforçar essa sensação dia após dia. 

Para que isso funcione, nós precisamos de salas de aulas com menos alunos, tempo suficiente para poder conversar com cada um deles e professores com um conhecimento profundo do conteúdo. Pois esse novo aluno que está ligado na internet tem muita informação, que boa ou má, será usada para contestar ou não o que o professor está falando. 

Recordo vagamente do trecho de um livro do escritor Umberto Eco, em que o filho se dizia interessado por alguma revista fútil e o pai fala que o único interesse daquela revista era vender. Não me lembro de detalhes da história, mas o argumento do pai era simples; a frase era curta, direta e objetiva. O filho passa a pensar: “Será isso mesmo?” Tanto quanto me lembro, o personagem nunca mais se interessou por aquele tipo de revista. Usar a frase certa, um argumento forte, indicar um foco claro, exige muita observação, experiência e sensibilidade, o que pode ser uma grande exigência para um professor, mas é o caminho, acima de qualquer método, para se levar um estudante a pensar.


img adriano

Adriano Natale

Professor universitário (IFT-Unesp e UFABC). Criou o programa de divulgação científica “Física ao Entardecer” que já foi classificado como evento “Folha SP”, editor e autor de livros de divulgação científica (ex.: A ciência dos videogames”), trabalhou com Reiko Isuyama em projetos de educação.

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Errando é que se aprende. Será mesmo?

Escrito por Cristiane Roldão em 18 Julho 2016.

Você já deve ter ouvido a frase: "É errando que se aprende". Mas, como isso funciona? Como consigo aprender algo a partir de um erro? E como esse ditado popular é aplicado nas práticas didáticas de nossas escolas e faculdades?

Ao pensar em minha vida de estudante, lembro-me de que sempre era cobrada para fazer as coisas certas, seja na lição de casa, na apresentação de um trabalho ou ao responder a uma pergunta feita pelo professor ou professora. Mesmo entre os estudantes, havia esse tipo de cobrança, pois os colegas poderiam rir e fazer piadas de alguém que cometesse um erro. Afinal, o bom aluno era aquele que fazia tudo certo. Como eu queria ser uma boa aluna, me esforçava muito para não cometer erros, para sempre acertar.

Claro que isso não funciona somente com a minha força de vontade. Os erros são inevitáveis, pois errar é humano. Quando errava, me sentia muito mal. Se eu tirasse uma nota baixa, aceitava que era necessário me esforçar mais para recuperar!

Ao entrar na faculdade para cursar Física, as coisas não mudaram muito. Na verdade, a cobrança sobre a necessidade de acertar aumentou, tanto entre os professores quanto entre os alunos. Ficamos viciados em acertar! Mesmo nas atividades experimentais. Escrevíamos relatórios mostrando que as constantes físicas foram medidas com uma precisão incrível e os gráficos obedeciam perfeitamente às teorias. A parte mais difícil desses relatórios, pelo menos para mim, era justificar os erros de medida. Eu nunca sabia o que escrever, o que afinal poderia ter dado errado se fizemos tudo certo?

Uma das experiências que fiz na faculdade foi verificar o empuxo exercido pela água sobre um pequeno peso de balança de alguns gramas. Tínhamos que prender esse peso ao braço de uma balança muito sensível. Ao mergulhar o peso na água, as medidas seriam feitas e mais um relatório seria entregue. Porém, eu deixei o peso e o braço da balança caírem na água. O terror dos terrores, as medidas do meu grupo ficaram muito ruins, muito distantes do valor calculado com a fórmula apropriada. Eu fiquei boa parte desse dia no laboratório, até fazer as medidas corretas para produzir o relatório. E, depois desse acidente, entre alguns de meus colegas, ganhei a reputação de ser um desastre nas atividades experimentais. Por isso, o meu papel nas futuras aulas de laboratório restringira-se a anotar os dados. Tornei-me uma secretária, e não parte do grupo de cientistas!

Eu só passei a lidar bem com o erro, aceitar que ele é inevitável e que ele se torna uma grande oportunidade de aprendizado quando me tornei aluna de doutorado. Para você que não está familiarizado, o doutorado vem depois da faculdade e do mestrado. Quando entrei no doutoramento, eu tinha 24 anos. Foi então que comecei a perceber, com a ajuda de meu orientador, e mais tarde com o trabalho e a orientação da professora Reiko, que o erro não precisava ser desmotivador e assustador. Mas como isso é possível? Não aceitando a nota baixa para recuperar depois, mas, sim, pensando nesse engano e tentando resolver o problema. Responder algumas perguntas me ajudou nesse processo:

* Qual foi a causa do erro?

* Como posso resolvê-lo?

* O que ainda tenho que aprender para tentar a solução?

* Quem pode me ajudar com em minha dificuldade?

Hoje, sou professora de Matemática e Estatística para alunos em uma faculdade, e convivo com estudantes de 18 a 50 anos, todos com diferentes personalidades e histórias de vida. Apesar dessa diversidade, percebi que muitos deles também têm medo de cometer erros. Esse receio muitas vezes os impede de participar da aula, seja questionando ou respondendo a uma pergunta. Acredito que um dos piores aspectos dessa fobia é não permitir que os alunos pensem com autonomia, o que pode desestimulá-los. Afinal, como é possível ser inteligente e capaz de aprender se eu cometo tantos erros?

Mas para que o erro seja uma ferramenta de aprendizado, acredito que, durante a aula, é importante oferecer aos alunos a oportunidade de resolver um exercício sozinhos. Durante a condução da correção, costumo perguntar como devo começar a minha resolução e o que eu devo fazer a cada etapa, até chegar à resposta final. Toda a descrição do exercício é anotada na lousa. Nesse processo, não os interrompo para corrigir algum erro que tenha percebido, sigo as instruções dos alunos até o final. Evito também falar a eles se a resposta está certa ou errada. Neste processo, caso haja erros, eu tenho duas preocupações, uma é descobrir onde eles ocorrem, outra é tentar entender porquê eles foram cometidos.

Por exemplo, percebi que alguns alunos têm dificuldades para entender um problema que envolva a leitura de um pequeno texto. Isso pode acontecer por diferentes razões, como o aluno não compreender alguma palavra do texto ou não conseguir relacionar corretamente a pergunta a um dos assuntos estudados, não saber identificar os dados que precisam ser usados ou mesmo não ter lido todo o texto. Para eu entender qual seria a dificuldade, faço algumas perguntas:

* Em que parte do texto está sendo feita uma pergunta?

* Vocês entenderam a pergunta? O que precisamos calcular?

* O que vocês conhecem que pode ser usado para resolver esse problema?

* O que vocês ainda precisam aprender para resolver esse problema? 

* Quais são os dados que aparecem no texto?

* Quais dados são necessários para resolver o problema pelo método escolhido?

Assim, tento ajudá-los a pensar no que deu errado e como podemos buscar a solução, trabalhando como equipe. 

Eu percebo que, com o tempo, os alunos ficam mais cuidadosos com suas atividades e atentos a alguns detalhes que antes não achavam importantes. Algumas vezes, é possível perceber que eles se sentem a vontade e prestigiados quando corrigem um erro que eu tenha cometido, seja o resultado de um cálculo, ao escrever uma resposta dada por eles ou mesmo quando cometo erros de português. Sempre agradeço as correções, pois, se errar é humano, a professora também erra. Mas só de vez em quando!

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Afinal, o que é Educação para o pensar?

Escrito por Ana Helena de Campos em 23 Maio 2016.

Há mais de 10 anos, a Profa. Reiko Isuyama me fez a seguinte pergunta:

– Ana, o que você faz quando pensa?

Cric-cric-cric. 

Silêncio absoluto. 

Mas muitas frases passavam pela minha cabeça, como: “resolvo um problema”, “aprofundo uma ideia”, “meu cérebro é ativado através de conexões....”. “Ai, pense, Ana Helena!”. Nenhuma delas explicava satisfatoriamente o que eu fazia quando pensava. Eu não me arriscaria em dizer as frases para a professora, que continuava me olhando com toda a tranquilidade do mundo. “O que ela pensará de mim? Estou terminando o doutorado em física. Durante quatro anos, só fiz pensar. Quatro não, seis anos, contando o mestrado. Não, onze, se contar a graduação. Na verdade, onze não, vinte, se for contar o período escolar... Ih, será que eu pensava antes de entrar na escola? Claro que sim, Ana Helena. Então, quem me ensinou a pensar? Será que nascemos sabendo? Nasço, logo penso? Ai, meu Deus....”. 

E foi esse um dos meus primeiros contatos com genialidade da professora Reiko!

Não era possível enganá-la com retórica furada (e eu sou péssima nisso), apenas explicações simples a satisfaziam, e o seu olhar generoso estava sempre a serviço de compreender os caminhos da minha razão, nunca para me constranger.

Em outro momento conto mais sobre a minha experiência com a professora Reiko, porque agora quero compartilhar com vocês o que aprendi com ela sobre o ato de pensar. 

Depois de algum tempo e treinamento, entendi que pensar é, na verdade, um conjunto de ações, quase automáticas e que, em geral, não nos é ensinado na escola de maneira sistemática. 

Quando a professora na escola dizia: “pense!” ou “pense mais um pouquinho para descobrir a resposta”, ou outras orientações similares, o que ela desejava que fizéssemos exatamente? Com o tempo, descobrimos sozinhos esses caminhos, os caminhos do nosso jeito de pensar. E, assim, vamos aplicando, aplicando, aprimorando como pensamos e continuamos aplicando e aprendendo, mas não nos é dito o que exatamente devemos fazer. Simplesmente o fazemos. 

E isso não bastaria já que ao final estamos pensando?! Para entender o meu ponto de vista, proponho um exercício.

Suponha que você conheça apenas um tipo de caixa e que precise guardar objetos de diferentes tamanhos e formatos dentro dela. Objetos muito pequenos deslizam dentro da caixa. Objetos que não tem o formato da caixa não se acomodam. E os objetos maiores, então? Simplesmente, não entram. São muitos objetos grandes fora das caixas. Um dia, alguém lhe diz que sabe construir caixas. E mostra para você, desde o tamanho adequado do papelão, as dobras que devem ser feitas, os cortes com a tesoura, até a montagem das caixas, e pronto. Eis as caixas! Você aprendeu o processo e reproduz algumas caixas para certificar-se de que sabe construí-las. Logo percebe que, se pegar um papelão menor, conseguirá fazer caixas menores, que acomodarão melhor os objetos pequenos. Puxa! Você poderá fazer uma caixa grande e guardar todos os objetos grandes! Será que é possível fazer caixas para acomodar objetos triangulares? Será que pode fazer uma caixa hexagonal? E em formato de pirâmide? E será que dá para fazer uma caixa com outro tipo de papel, em vez de papelão? E com plástico flexível? E as cores? Sim, de todas as cores e texturas que imaginar. Com compartimentos, com música, de madeira! Enfim, agora você sabe o processo e pode aprimorar-se cada vez mais e fazer caixas cada vez mais interessantes a serviço da sua necessidade. 

Mensagem do exercício: dominar o processo faz com que ampliemos o nosso repertório de possibilidades. 

Assim, também entendo que conhecer o processo que utilizamos ao pensar amplia a qualidade dos nossos pensamentos. Foi isso que aprendi. Vamos ao processo do pensar, então.

Ao sermos colocados diante de um problema ou situação nova, somos convidados a pensar.

Somos convidados a observar com atenção a situação, captando e selecionando aquilo que ela pode nos oferecer para solucionar o problema. A observação é muito mais que “ver com os olhos”, é perceber com todos sentidos possíveis: além das imagens visuais, os sons, os cheiros, as texturas, os sabores. E incluo aqui a intuição, que particularmente uso nesta etapa da observação. Todos os sentidos ficam a serviço dessa observação, capturando informações.

Talvez nesse momento as opiniões sobre muitos elementos de nossa observação comecem a aparecer. Estamos acostumados a querer ter opinião sobre tudo. Mas, o pensamento será melhor quando mais precisamente pudermos separar os fatos que observados, das opiniões sobre eles.

Podemos tentar reproduzir as observações descrevendo-as mentalmente, ou por escrito, ou oralmente. O registro organiza os detalhes apreendidos na observação. 

Algumas coisas você reconhecerá e entenderá de imediato, porque comparou com seu repertório de conhecimentos e de experiências, checou semelhanças e diferenças entre aquilo que observou e o que já sabe. Outras coisas, você não poderá reconhecer e serão registradas por você como novas. 

Sem que você precise decidir, a categorização dos elementos observados já se iniciou. Toda observação será classificada dentro de algum critério que você mesmo julgou conveniente, seja um critério temporal, por assunto, cultural, estético. Quanto melhor o pensamento, mais critérios aparecem e mais classificações podem ser realizadas e novas perspectivas alcançadas. 

Uma enxurrada de ideias começa a brotar de todos os lados. Ideias que nascem com as interpretações que você faz desse conjunto de informações que surgiram da sua observação, da sua descrição, da sua comparação, da sua classificação.

A necessidade de organizar, separar aquilo que julga relevante, começa a se formar. Tudo é pertinente, mas você deseja ficar com aquilo que é realmente relevante para o seu propósito. 

É preciso sintetizar suas ideias para responder o problema ou simplesmente se posicionar diante da situação.

Talvez, as coisas não aconteçam nessa sequência ou com todas as etapas descritas, mas essas são algumas das nossas ações quando pensamos. 

Nós:

- Observamos (com todos os sentidos). Significa que capturamos informações.

- Descrevemos (oralmente, mentalmente, por escrito). A descrição ajuda a captar mais detalhes da observação.

- Comparamos (buscamos semelhanças e diferenças) daquilo que observamos com aquilo que já sabemos. Isso nos permite aplicar estratégias já conhecidas para lidar com a nova situação ou buscar uma nova.

- Classificamos, segundo algum critério, o conjunto de informações obtido. Quanto mais critérios, mais ampla será nossa compreensão daquela situação.

- Interpretamos as informações segundo nossa experiência de vida, conhecimentos adquiridos e percepções.

- Sintetizamos todas as ideias, informações, interpretações que surgiram desse processo, selecionando aquilo que é relevante para termos uma posição.

Também são possíveis outras ações quando pensamos. Mas essas foram as primeiras que descobri com a professora Reiko. Ela me treinou em cada uma dessas ações com bastante profundidade, usando como pano de fundo as ciências, que era nossa área comum e na qual escrevíamos projetos de educação. Esse treino me ajudou a escrever minha tese de doutorado com muito mais clareza. Mas, com o tempo, percebi que, independentemente, da situação que vivia no trabalho, na rua, vendo um filme ou num almoço de domingo com a família, lá estava eu observando, descrevendo, comparando, inferindo, interpretando etc. etc. etc. Eu tinha entendido o processo. Assim como o construtor de caixas. Minhas caixas ficaram mais interessantes, mais versáteis e mais bonitas. 

Eu, juntamente com o grupo RIA, acreditamos que seja possível apresentar os conteúdos escolares para as nossas crianças e jovens numa estrutura que fortaleça as ações do pensar. Isso que chamamos de Educação para o “pensar”. Isso que aprendi com a professora Reiko Isuyama. 

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