Como o Papel é Feito? (Parte 1)
Você já deve ter ouvido falar que o papel é feito de árvores. Na verdade, ele é feito de celulose, que é extraída das plantas. Vamos conhecer melhor a celulose. Se você rasgar um pedaço de papel e olhar com uma lupa, verá um monte de fibras muito finas, como cabelinhos incolores. Essas são as fibras de celulose. Elas foram tiradas das árvores e transformadas em papel. Por isso, não desperdice papel, uma árvore morreu para ele ser feito.
As plantas produzem as fibras de celulose para que elas lhes deem sustentação. E também produzem a lignina, que é uma cola que gruda as fibras de celulose umas às outras. Pense nos galhos de uma árvore, eles são rígidos e duros por causa dessas fibras grudadas. E é a lignina que dá a cor marrom à madeira (pois a celulose é incolor).
Como o papel é feito de celulose, temos que remover a lignina da madeira para podermos separar as fibras. Essa danada da lignina, além de dificultar a separação das fibras, ainda deixa o papel com a cor marrom. Você verá o trabalho que ela dá.
Então, vamos logo começar a fazer o papel. Primeiro, a árvore é cortada em toras, que são descascadas e picotadas em pequenas lascas de alguns centímetros. Essas lascas são colocadas num grande tanque fechado, chamado de “digestor”, que funciona como uma panela de pressão gigante. O vapor de água é injetado para aquecer as lascas e aumentar a pressão no digestor. Depois disso, uma mistura líquida, chamada de licor branco, é bombeada para dentro do digestor. Não faça confusão com a bebida licor; o licor branco é uma solução de hidróxido de sódio (NaOH) e sulfeto de sódio (Na2S) em água.
A mistura de lascas de madeira e licor fica “cozinhando” no digestor a 170 ºC por umas 4 horas. Lentamente, o sulfeto de sódio, ajudado pelo hidróxido de sódio, quebra a lignina e vai soltando as fibras de celulose da madeira.
Depois, o digestor é esvaziado e a mistura que sai dele passa por um filtro que separa as fibras de celulose (parte sólida) do licor negro (parte líquida). O licor negro contém os produtos da quebra da lignina, outras substâncias orgânicas da madeira, e ainda as sobras de NaOH e o Na2S.
A parte sólida (as fibras de celulose) é lavada para retirar mais licor negro. Depois, é peneirada para retirar impurezas sólidas (como areia e casca da árvore) e vira a polpa de celulose. A polpa é uma suspensão de fibras de celulose em água.
O que é suspensão?
Suspensão é um tipo de mistura heterogênea, ou seja, uma mistura em que dá para ver os componentes separados. Quer fazer uma suspensão de celulose?
É simples, pique uma folha de papel muito bem e bata no liquidificador com água. Pronto, você tem uma suspensão. Se você esperar um pouco, verá que o papel acaba se separando e indo para a superfície.
Mas, se você misturar sal com água, fará uma mistura homogênea. O sal vai se dissolver e não dará mais para distinguí-lo da água. Entendeu?
A polpa ainda tem um pouco de lignina, por isso é marrom. Como ninguém gosta de escrever em papel marrom, a polpa deve ser, primeiro, branqueada, para, depois, ser transformada em papel. Mas essa parte ficará para a segunda parte deste mesmo assunto.
Mas, espere aí! E o licor negro? O que a indústria faz com ele? Será que ele é jogado fora? Para a alegria dos peixinhos, ele não é jogado fora. Lembre-se que o licor negro contém NaOH e Na2S, que foram comprados. Na terceira parte deste artigo, você saberá como o pessoal da indústria faz para recuperar o NaOH e Na2S do licor negro. Parece mágica, não? Mas com a química tudo é possível. Você entenderá como a recuperação funciona.
Jorge Andrey W. Gut, Eng. Química da USP