O trabalho da RIA está centrado no processo de pensamento, ou melhor, na organização e conscientização das ações mentais do que chamamos de “pensar”. Alguns dos processos fundamentais são os de observação e de descrição. Eles estão intimamente ligados, pois o nível de atenção aos detalhes observados, seja em um objeto ou um acontecimento qualquer, depende do objetivo da descrição e de sua comunicação. Se você, por exemplo, fosse descrever uma peça de roupa da qual gostou, daria detalhes muito mais precisos (cor, tamanho, tipo, loja) se estivesse conversando com seus amigos na véspera do seu aniversário.
A comunicação de algo observado ou percebido pode ser feita oralmente, por texto, por meio de figuras, diagramas etc. Além da atenção aos detalhes úteis, é também importante saber diferenciar fatos de interpretações pessoais (inferências). A precisão na comunicação está muito ligada a esta distinção. O que foi realmente observado e qual é a minha interpretação ou opinião sobre isso? Qual é o nível de precisão e de detalhamento que devo ter ao descrever ou comunicar?
“Ontem estava incrivelmente quente e seco” é uma frase que se pode ouvir em uma conversa informal. É uma descrição pouco precisa sobre o clima e está baseada em percepções pessoais. Mesmo assim, tem coerência com o objetivo de começar uma conversa. As distinções entre quente/frio ou seco/úmido, ou ainda do que é incrível ou não, são subjetivas, ou seja, dependem de cada pessoa. Tem gente que prefere o verão e há aqueles que preferem o inverno. Além disso, a vivência pessoal de cada um influencia a percepção do que é ou não “incrível”.
“Senti muito calor ontem. A temperatura chegou a 38 °C e a umidade do ar estava muito abaixo do normal” é uma frase que poderia ser usada por alguém em consulta com um médico, discutindo por que passou mal no dia anterior. Nesse segundo exemplo, a precisão na comunicação é maior. É fornecido um valor de temperatura máxima (38 °C) e a sensação pessoal de calor é informada em vez de afirmar que o dia estava “quente”, ou seja, o locutor separou sua percepção (calor) do fato (temperatura máxima de 38 °C). Um referencial foi dado para a umidade do ar, mas que deixa dúvidas pela falta de precisão. O que seria uma umidade “normal”? O quão exatamente é “muito abaixo”? Se o médico achar que essas informações são necessárias para sua análise, indagará o paciente para ter mais detalhes.
Um engenheiro ambiental que estuda a dispersão de poluentes atmosféricos faria um registro ainda mais preciso e detalhado sobre o clima em seu caderno: “Os instrumentos da estação meteorológica indicam que no dia 14/07/2016 a temperatura variou entre 27,9 e 38,3 °C, com uma média de 35,0 °C, e a umidade relativa do ar oscilou entre 48 e 51% com uma média de 49%”. Como esse é um relato científico, deve conter dados precisos e úteis. Um ponto interessante é que em vez de escrever que a temperatura do ar “foi” de 35,0 °C, ele deixa claro que sua real observação foi do valor “35,0 °C” indicado pelos instrumentos, sendo assim, ele não “observou” a temperatura. Qual é a diferença? Se 35,0 °C é o valor correto da temperatura média daquela região naquele dia dependerá de diversos fatores, como a calibração do instrumento, o princípio de medição ou a localização da estação.
Como podemos notar nesses três exemplos, a precisão na comunicação depende do seu objetivo. Como ensinava a Prof.ª Reiko, “uma pessoa amadurece quando suas atividades são disciplinadas pelo objetivo”. O engenheiro não escreveria “incrivelmente quente” em seu relatório de medições, nem começaríamos uma conversa entre amigos com “a umidade relativa oscilou entre 48 e 51% com uma média de 49%”.
A comunicação precisa e eficiente é aquela em que fatos observados estão separados das interpretações e percepções pessoais e o detalhamento é consistente com o objetivo da descrição (sem focar no que não tem utilidade). Evitam-se palavras subjetivas como muito/pouco ou palavras extremas como sempre/jamais. Além disso, é importante ter vocabulário para se expressar adequadamente (na dúvida, não tenha vergonha de usar o dicionário) e ter habilidades gráficas para fazer desenhos ou diagramas que forem necessários. Para finalizar, essas habilidades são úteis não só para quem comunica, mas também para quem recebe as informações. Seja um comunicador eficiente e um receptor crítico!
Jorge Andrey W. Gut
Professor da Escola Politécnica da USP - Eng. Química. Foi capacitado e trabalhou com a Profa. Reiko Isuyama em projetos como o Jornal Reação e o Novo Telecurso de Química.
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