Você Fez uma Boa Pergunta Hoje?
Uma vez li em um artigo do jornal americano The New York Times1 que ao ser questionado sobre o motivo de se tornar cientista, Isidor Isaac Rabi, vencedor do Prêmio Nobel de Física de 1944, respondeu que teria sido pela pergunta que sua mãe o fazia diariamente. Ele explicou que em sua infância, enquanto todas as mães da vizinhança faziam a seguinte perguntava aos filhos ao retornarem da escola: “você aprendeu algo na escola hoje?”, sua mãe indagava-o: “Izzy, você fez uma pergunta boa hoje?”. Ele acredita que foi exatamente essa pergunta que o fez se tornar cientista.
Você imagina por que o encorajamento da mãe ajudou Isidor Isaac Rabi a se tornar cientista? Vamos pensar na diferença entre as duas perguntas feitas pelas mães. Quando as outras mães perguntavam “o que você aprendeu na escola hoje?”, elas queriam saber se os seus filhos aprenderam algo novo. O foco do questionamento é o que a criança aprendeu. Já na abordagem da mãe de Isidor “você fez uma pergunta boa hoje?”, o interesse não é se ele aprendeu algo novo, mas se tomou iniciativa para esclarecer algo que não entendeu ou, melhor ainda, se quis aprender algo além do que já sabia ou do que aprendeu naquele dia.
A pergunta de sua mãe ajudou-o a criar o hábito de desejar sempre aprender algo novo. Já imaginou como seria se decidíssemos criar o mesmo hábito? Em meu dia a dia, tenho a oportunidade de fazer muitas perguntas. Por exemplo, ao lavar as mãos com sabonete, posso perguntar “por que água e sabão deixam as mãos mais limpas do que lavar só com água? E por que as pessoas costumam a lavar as mãos com sabonetes, mas os pratos com detergentes? Qual é a diferença entre sabonetes e detergentes?”. Ou, ainda, ao olhar o meu irmãozinho dar uma gargalhada, posso perguntar “por que as pessoas riem quando acham algo engraçado? E por que às vezes até saem lágrimas quando rimos? Qual é a função das lágrimas? Como elas se formam dentro do corpo?”.
Note como as nossas dúvidas nos levam a parar para observar, investigar, explorar e pensar melhor os acontecimentos ao nosso redor, mesmo os mais simples e corriqueiros. Por isso, crie o hábito de manter uma postura de curiosidade, de desejar aprender mais e entender melhor. As perguntas surgirão naturalmente se você mantiver essa postura. E, quando as dúvidas e as perguntas surgirem, tome nota delas. Às vezes sentimos preguiça de procurar as respostas ou vergonha de perguntar e acabamos ignorando-as. Não faça isso! Valorize as suas dúvidas e perguntas, mesmo as mais simples. Não as considere como sinais de ignorância, mas, sim, valiosos sinais de seu desejo de aprender algo novo.
Conversando a respeito do programa ReAção, no qual foram capacitados mais de 500 educadores, desde a Educação Infantil até o 8º ano do Ensino Fundamental, a Professora Reiko Isuyama disse que “se as crianças chegarem na dúvida, o programa foi um sucesso”.
Você já imaginou como seria o estudo na escola, se o papel principal dos alunos não fosse responder às perguntas dos professores, mas, sim, fazer perguntas e tentar respondê-las enquanto exploram o assunto cada vez mais a fundo? Como seria se as perguntas e as curiosidades dos alunos fossem mais valorizadas do que os seus conhecimentos? E qual seria o papel dos professores nesse caso?
E você, fez uma boa pergunta hoje?
1 Artigo publicado em 19 de janeiro de 1988 (fonte: http://www.nytimes.com/1988/01/19/opinion/l-izzy-did-you-ask-a-good-question-today-712388.html)
Comentários